São Carlos, o celeiro tecnológico do Brasil
Com quatro universidades e uma notável marca de um doutor para cada 160 habitantes, cidade paulista possui cerca de 240 empresas de base tecnológica

O apelido “Capital da Tecnologia” não foi conquistado à toa. Com 230 mil habitantes e cravada no centro do Estado de São Paulo, São Carlos (230 km da apital) desponta como um dos principais celeiros de produção tecnológica do país: da robótica à biofotônica, da óptica à aerofotogrametria, a cidade abriga cerca de 240 empresas de base tecnológica, número que corresponde a 25% do parque industrial do município. A alta produção de tecnologia não é uma coincidência. Com quatro instituições de ensino superior renomadas internacionalmente, incluindo a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e dois campi da Universidade de São Paulo (USP), a cidade também abriga centros de pesquisa como as duas unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e se prepara para inaugurar o primeiro Parque Tecnológico de 3ª Geração do país.

Esse ambiente propício à inovação fez de São Carlos o município brasileiro com a maior densidade de doutores (PhD): há um para cada 160 habitantes, realidade bem diferente da média nacional, que é de um doutor para cada 5.423 habitantes. É a maior concentração de doutores por habitante na América Latina.
 
Cientistas empreendedores - No entanto, não basta apenas produzir o conhecimento. Talvez um dos principais diferenciais de São Carlos seja o grande número de cientistas/empreendedores que mantiveram um pé dentro das universidades e outro no setor industrial. Na qualidade de sócios, consultores ou simplesmente parceiros, eles são peça fundamental na consolidação de um ambiente empresarial tecnológico que não para de crescer. Um exemplo desta nova geração acadêmica é o físico Vanderlei Bagnato, vice-diretor do Instituto de Física São Carlos (IFSC) da USP e consultor da MM Optics, empresa pioneira na produção de equipamentos médicos e odontológicos à base de Laser e LED. A aplicação da biofotônica e da óptica-eletrônica na concepção dos aparelhos é viabilizada pela parceria com a USP e conta com um leque de doutores especialistas no assunto. “Além de promover o progresso da ciência com a produção de artigos e apresentações em congressos, os cientistas têm a responsabilidade de prover resultados que possam se tornar tecnologias úteis para a sociedade brasileira”, enfatiza Bagnato. Utilidade que a MMOptics não se cansa de pesquisar. A empresa, criada há pouco mais de uma década e que deve faturar neste ano R$ 8,5 milhões, prepara-se para lançar no mercado um aparelho revolucionário na detecção e tratamento do câncer de pele. A principal inovação do equipamento que tem como base a fototerapia (PDT) está na rapidez do diagnóstico e início do combate à doença, possíveis de serem realizados em, aproximadamente, cinco horas. Um outro exemplo entre os variados cases de sucesso da cidade é a AGX Tecnologia. A empresa, que nasceu em 2002, foi a primeira no Brasil a desenvolver Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) em conjunto com o Instituto de Ciências Matemáticas e Computação (ICMC) da USP e Embrapa. Com alto knowhow no processamento de imagens georreferenciadas e no desenvolvimento de tecnologias embarcadas – em parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Embarcados Críticos (INCT-SEC USP), a AGX conseguiu lançar no mercado, no último mês de abril, o VANT mais barato do Brasil (cerca de R$ 30 mil) com tecnologia 100% nacional. Denominado Tiriba, o avião robô está sendo usado em uma parceria entre a empresa e a Polícia Militar do Estado de São Paulo no monitoramento de áreas agrícolas. “O VANT permitirá à polícia monitorar e quantificar crimes ambientais com alta precisão. São benefícios que envolvem um baixo custo operacional e ausência de riscos, já que o VANT é operado por um piloto automático”, destaca Adriano Kancelkis, diretor da empresa. O empresário ressalta a importância das parcerias com a universidade. “É essencial que empresas de tecnologia mantenham essa ligação. A universidade também se beneficia, inclusive com o licenciamento de patentes”, pontua Kancelkis.
 
Aliança - A maturidade alcançada pelas empresas de base tecnológica de São Carlos já é considerada um modelo para o país. O presidente do Instituto Inova (entidade gestora do Parque Eco Tecnológico Damha), José Octávio Armani Paschoal, explica que a fórmula do sucesso tão bem colocada em prática na cidade é a existência de uma aliança harmônica entre poder público, centros de pesquisa e setor privado, fundamental para a criação e consolidação das empresas no mercado. “É o trimônio que dá certo. Hoje nos consolidamos como Capital da Tecnologia e trabalhamos para que esse ambiente propício à inovação se desenvolva cada vez mais”, conclui Paschoal.
 
Parque Tecnológico
Fazendo jus à fama, São Carlos foi a cidade escolhida para sediar o primeiro Parque Tecnológico de 3ª Geração do Brasil. O empreendimento, lançado pelo grupo Encalso/Damha no ano passado, contém um milhão de metros quadrados e cerca de 140 lotes para comercialização. Gestor do Parque, Paschoal explica que, por levar consigo o conceito “Eco”, o empreendimento exige das empresas que nele irão se instalar uma série de regras de sustentabilidade, como a construção de telhados verdes, tratamento adequado da água e realização de análises periódicas do descarte de resíduos. A Prefeitura de São Carlos também contribuiu com esse ambiente de inovação. No coração do Parque, o prefeito Oswaldo Barba doou a área em que será construído o Centro de Inovação, Ciência e Tecnologia na Área da Saúde (Citesc) e a incubadora das empresas de base tecnológica, também chamada Centro de Desenvolvimento das Indústrias Nascentes (Cedin). Em fase de implementação, as empresas do Parque Eco Tecnológico Damha deverão começar a operar no complexo num prazo de um ano. “O Parque Eco Tecnológico Damha está instalado num dos eixos de desenvolvimento de São Carlos”, destaca o secretário de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia de São Carlos, Marcos Martinelli. Ele lembra que o Parque fica estrategicamente localizado, entre as universidades USP e UFSCar, centros de pesquisa e, futuramente, a Cidade da Energia. “Além de conhecimento, o Parque vai gerar emprego e renda”, completa Martinelli.

 

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