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Cancelamento das Refinarias Premium quebra expectativa da Indústria Brasileira e deve agravar crise no setor de Óleo e Gás

 


Antônio Müller, Presidente da ABEMI

A maré negativa está deixando os empresários do setor de óleo e gás brasileiros sem novos horizontes. São tantas notícias ruins, que fica difícil para os executivos e para as empresas se planejarem, num momento em que não só a economia nacional passa por agruras, como o principal motor da indústria de petróleo nacional, a Petrobrás, está no meio da maior crise de sua história. Agora, com a decisão da estatal de cancelar os projetos das refinarias Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará, assim como com a suspensão do segundo trem de refino da Rnest, o mercado perde as poucas esperanças que ainda tinha em novas obras no setor, restando pouquíssimos grandes empreendimentos em desenvolvimento no Brasil, quase todos focados no segmento offshore. A novidade é quase que um complemento, no mau sentido, da decisão da Petrobrás pela contratação de empresas estrangeiras para a construção dos módulos para os FPSOs replicantes, que antes estavam sendo feitos pela IESA. A consequência direta e indireta é o que pode haver de mais agravante para o futuro do Brasil: um esvaziamento contínuo da nossa engenharia, como já aconteceu no passado e deixou marcas profundas no País.

Petronotícias foi ouvir membros da indústria brasileira de petróleo e gás para saber como a notícia foi recebida e quais os impactos que ela deve gerar, na visão deles. Alguns executivos divergem um pouco da forma de encarar o assunto – com a lembrança de que a origem das refinarias Premium não partiu da área técnica da Petrobrás, mas sim de uma decisão política do Governo -, mas um sinal claro de como a informação foi recebida é que as palavras “péssima” e “ruim” estão entre as mais ouvidas nas respostas sobre o que acharam da decisão de cancelar os projetos. Veja a seguir as opiniões de Antônio Müller, Presidente da Abemi, Cesar Prata, Presidente do Conselho de Óleo e Gás da Abimaq,Marcelo Bonilha, Diretor Superintendente da EBSE, José Adolfo Siqueira, Diretor Executivo da Abitam, Guilherme Cruz, Presidente da EBCI, Sergio Salomão, Presidente da IMC Saste, e Márcio Cancellara, Presidente da Projectus Consultoria.

Antônio Müller – Presidente da ABEMI
“Infelizmente houve essa decisão. Acho que, no momento em que estamos, seria especialmente importante incluir os projetos básicos e conceituais delas. Isso era uma esperança na indústria, porque hoje o mercado está muito preocupado com a falta de projetos. Para o Brasil, seria interessante ser autossuficiente em derivados, e para o mercado foi mais uma decisão negativa, porque as empresas estão precisando de projetos.

O impacto direto disso é a falta de novos projetos. É uma pena, porque é um mercado futuro interessante, tanto para o Brasil, quanto para a Petrobrás e para a indústria de engenharia e construção”.


Cesar Prata, Presidente do Conselho de Óleo e Gás da Abimaq

Cesar Prata – Presidente do Conselho de Óleo e Gás da Abimaq
“O cancelamento é muito ruim para a indústria e para o Brasil, porque eram projetos que, apesar de estarem sendo protelados nos últimos tempos, tinham sido anunciados pelo presidente da Petrobrás em 2009. O mercado levou a sério e se preparou para atender a essas demandas, mas agora uma nova gestão vem e diz: ‘era brincadeira, não é nada disso’.

O mercado tinha se preparado para atender a um volume de demandas e esse cancelamento corta uma parte das previsões que alimentariam as indústrias brasileiras fornecedoras nesse período de 2015, 2016 e 2017, pelo menos. Seria um derramamento de encomendas para a indústria, com o qual o mercado estava contando, mas que não vai mais haver. Então é uma notícia péssima.

É bom lembrar que no auge da crise, em 2009, o Brasil, para se esquivar parcialmente dela, durante uma das primeiras reuniões do conselho da Petrobrás daquele ano, incluiu o presidente da república, o Lula, no encontro. Ali ele disse: ‘companheiros, a Petrobrás vai ser a alavanca de investimentos para a gente manter as coisas rodando no país, apesar da crise’. Então naquele momento ele anunciou todas as refinarias que estão finalizando, mais as Premium, as plataformas, as sondas, os navios e tudo mais. O intuito era usar a Petrobrás e reverter uma possível crise endêmica. E funcionou.

Agora, que estamos vivendo, em 2015, uma estagnação na nossa economia e uma crise imensa na Petrobrás – com Operação Lava Jato, obras não entregues, etc – estou vendo que existe a oportunidade para outra reunião como aquela, incluindo presidente e ministros, para que se fale: ‘vamos reverter essa previsão, botar a Petrobrás para investir e tocar novos projetos, principalmente esses das Premium, usando a empresa da mesma forma que foi em 2009, para empurrar o País inteiro para frente’.

A Petrobrás representa sozinha 10% de todos os investimentos no Brasil, o que significa 1,5% do PIB. O momento para reverter a situação recessiva e a expectativa negativa do País é agora. Estão perdendo a oportunidade de, ao invés de cancelar os projetos, dar seguimento, usar o que tem na mão para reverter esse cenário nacional.
Outra coisa muito chata é a quebra de contrato. Vem o dirigente, Sérgio Gabrielli, percorrendo o País, incitando os empresários a investirem e fazerem parte, como fornecedores, dos investimentos da Petrobrás – ele fez um road show aqui e no exterior anunciando os projetos, temendo que a indústria nacional não tivesse capacidade de fazer frente às demandas da companhia –, todo mundo acredita e agora acontece isso? É uma quebra de contrato e reforça o clima de imprevisibilidade dos nossos gestores. Era um momento para eles reafirmarem o que prometeram há anos atrás”.


Marcelo Bonilha, Diretor Superintendente da EBSE.

Marcelo Bonilha – Diretor Superintendente da EBSE
“É uma decisão muito ruim para o mercado, e o impacto é muito grande. No momento atual quase não há mais obras acontecendo, então cancelar refinarias desse porte é muito ruim.

Vai gerar o que já está gerando: falta de emprego e mais empresas em dificuldades financeiras.

Acho que as associações, das indústrias, das empresas, assim como as dos trabalhadores, precisam se reunir para mostrar o que está acontecendo, a realidade do País, e a consequência disso – que já está em andamento. Na minha opinião, o País começa a ter um grave problema social em função disso”.


José Adolfo Siqueira, Diretor Executivo da Abitam

José Adolfo Siqueira – Diretor Executivo da Abitam
“O impacto é grande, porque uma refinaria de 600 mil barris e outra de 300 mil são projetos bem grandes, obras de infraestrutura que demandariam bastante aço, então para o setor produtivo é ruim. Mas é claro que tem uma questão de logística. Quando houve a escolha do Maranhão, seria para exportação dos derivados. Mas o cenário mudou. Quando isso se inverteu, vendo que o Brasil tinha virado um importador, parou de fazer sentido, porque além de levar o petróleo do Sudeste para lá, teria que trazer os derivados de volta, ficando muito caro. Por isso que a Petrobrás está dizendo que não é viável economicamente. Então pode ser melhor realmente para eles aumentarem a Rnest e o Comperj.

Mas é claro que, para a indústria, mais refinarias geraria uma demanda muito maior, de aço, projeto, obra etc. Então o impacto é ruim, porque poderia ter um mercado muito maior para todos. Vai deixar de gerar empregos, impostos, produção e combustíveis”.


Guilherme Cruz, Presidente da EBCI.

Guilherme Cruz – Presidente da EBCI
“O impacto disso para a indústria é péssimo. Na realidade, é uma redução de investimentos pesada no País. Esses eram os únicos projetos importantes que estávamos vislumbrando para acontecerem agora. O resultado disso é o que já estamos vendo, a possiblidade de PIB negativo, recessão… só coisas ruins.

Pode ser que tenha sido uma boa decisão para a área técnica Petrobrás, porque as Premium foram uma decisão política, então pode ser que tecnicamente para ela isso seja bom, mas as consequências para todo o País são péssimas.

O País parou, então existe uma falta de projetos muito grande. Todo mundo está aguardando para ver como a economia vai reagir, para poder se reposicionar. No momento, está tudo parado. Esse ano já nasceu para ser esquecido. Se pudéssemos apagar a luz e só ligar em 2016 seria a melhor coisa a fazer”.


Sergio Salomão, Presidente da IMC Saste.

Sergio Salomão – Presidente da IMC Saste
“Como um empresário da área de engenharia, eu lamento, pois isso representa a eliminação da possiblidade de trabalhos para as empresas da área.

Porém, como brasileiro, e amante do Brasil, só tenho a elogiar a decisão. Uma decisão muito sensata, em vista das condições da Petrobrás e do mercado de óleo e gás. Porque a Petrobrás não tem capacidade de investimento nesse momento. O mercado não está demandante para construir essas refinarias no momento. Com o custo do petróleo lá embaixo, qual seria o custo disso? Seria outra Rnest, em valores? A minha opinião é que a Petrobrás tem que colocar a casa em ordem, deixar a poeira baixar, e depois começar a pensar novamente sobre os projetos. Então acho que foi a decisão mais sensata que ela poderia tomar”.


Márcio Cancellara, Presidente da Projectus Consultoria

Márcio Cancellara – Presidente da Projectus Consultoria
“A decisão da Petrobrás já era esperada, face não somente à priorização pela companhia dos investimentos em exploração e produção, mas também pela modificação do cenário internacional e a queda drástica do preço do petróleo. Ressalte-se que sempre houve certa dúvida sobre a viabilidade econômica da implantação dessas refinarias, cuja construção, como sabemos, foi uma decisão política de governo, e não técnica.

Quanto ao impacto disso, a indústria nacional, isto é, a rede de fornecedores do setor de óleo e gás, há dois anos se ressente da redução de contratos na área. Evidentemente a construção de uma refinaria oferece um leque de oportunidades e alimenta por um bom período a rede de fornecedores que se estende desde as empresas de projeto até os fabricantes de materiais e equipamentos. Então, eu diria que o cancelamento das refinarias Premium elimina expectativas que por ventura ainda poderiam estar existindo para reativar de forma consistente o setor de Óleo e Gás, tornando mais difícil a sua recuperação”. (Petronotícias)



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