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Projetos Híbridos podem viabilizar Energia Solar no Brasil


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O preço da energia solar no Brasil ainda está longe de ser competitivo em relação às demais fontes ofertadas no país, mas uma nova solução pode viabilizar sua geração comercial nos próximos leilões, quando vão entrar na disputa pela primeira vez. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, acredita que neste ano ainda não deve haver grandes contratações de energia solar, mas conta que investidores estão estudando desenvolver projetos híbridos entre solar e eólica que podem baixar os custos e gerar condições para que o sol comece a entrar na matriz nacional. Empresas que já possuem parques eólicos, com a área física disponível, conexões com a rede estabelecidas e a infraestrutura do entorno pronta poderiam instalar painéis solares sobre a área ociosa, reduzindo o preço do megawatt-hora (MWh).

Além da entrada da energia solar nos leilões, Tolmasquim estima que a eólica deva apresentar um grande crescimento na matriz elétrica nacional nos próximos anos, passando dos 2% atuais para cerca de 9%, mas reconhece que elas não vão garantir o suprimento energético do país. A entrevista com o executivo foi dividida em duas partes, sendo que a primeira, que segue abaixo, é focada em energias renováveis, e a segunda, que será publicada pelo Petronotícias na terça (15), tratará do papel das térmicas, do futuro das usinas nucleares e da participação do gás na matriz nacional.

Como avalia a matriz energética e elétrica no Brasil hoje?
Em termos de matriz energética, o Brasil tem uma das mais renováveis do mundo. Cerca de 45% dela é renovável aqui, enquanto no resto do mundo fica em torno de 13%. Nos países da OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico], isso fica em torno de 7%. Em termos de matriz elétrica, quase 90% é renovável no Brasil, quando a hidrologia está boa, enquanto no resto do mundo a média é 20%.

E como a EPE vê a composição ideal delas?
É difícil falar em matriz ideal, porque temos que estar ligados à realidade para fazer as projeções. Mas em termos de futuro, na matriz energética, o petróleo e seus derivados devem cair um pouco de percentual, de 38% para 32%, o gás subiria de 11% para 14%, há uma queda do carvão mineral de 7% para 6%, o urânio mantém 1,5%, a hidráulica cai de 14% para 12%, a lenha e o carvão vegetal se mantêm em 8,3% e há um aumento da cana de açúcar de 15,6% para 21,8%, enquanto as outras renováveis vão de 4,1% para 3,7%. Essa é a projeção para daqui a 10 anos.

E em relação à elétrica?
A hidroeletricidade vai continuar a ser o carro chefe da expansão no setor elétrico, mas vai perder participação relativa. Em termos absolutos vai continuar sendo a principal fonte, mas em termos relativos vai crescer menos que as outras. Deve haver um grande crescimento da eólica, que deve atingir quase 9% da matriz elétrica em 10 anos, sendo que hoje é menos de 2%.

Neste ano, pela primeira vez, teremos energia solar nos leilões. Ela já é viável comercialmente no país?
A solar e a eólica estarão competindo entre si nos leilões A-3 e A-5. Como a eólica já é bem mais competitiva, acho que vai ser pouco provável termos contratação grande de solar. Talvez possa ter alguém num parque integrado eólico-solar, alguma coisa do gênero. Mas é o início para começarmos a mapear o que existe de projetos. É interessante que muita gente se inscreveu no leilão A-3, o que mostra que há grande interesse de investidores nessa fonte.

Foram 2.729 MW inscritos no leilão A-3…
Isso é bom. Foi assim que começamos com a eólica. Primeiro fizemos um leilão, eles não ganharam, mas começamos a conhecer os investidores, as tecnologias, os projetos, e a partir dessa inscrição começamos a conhecer o setor. Acho que a solar pode seguir um caminho parecido.

A primeira usina solar do Brasil, de Tauá, com 1 MW, ocupou cerca de 11 mil m². Uma área muito grande para uma geração muito pequena. Seria viável tanto em termos de ocupação de espaço quanto financeiramente esse volume de novos projetos?
Em termos de área, no Brasil ainda não temos nenhuma restrição de ocupação, como na Europa. Em relação à questão econômica, realmente a solar ainda não é competitiva.

Tem alguma estimativa do preço do MWh?
Eu diria que está torno de R$ 400 o MWh da fotovoltaica e o da heliotérmica um pouquinho mais. É cerca de quatro vezes mais que a eólica.

Mas se ainda é tão distante das outras fontes, por que tantos projetos foram inscritos?
Eu mesmo estimulei que entrassem, falei para cadastrarem, para que a gente conheça os projetos. Depois, os preços têm caído muito. Nos últimos 10 anos, caiu à metade o valor e a tendência é continuar caindo. Além disso, esse valor de MWh que eu falei é um preço médio, mas pode haver projetos muito mais baratos. Por exemplo, parques eólicos que já têm a área alugada, têm a área para conectar, têm toda a infraestrutura de estrada e resolvem colocar lá os painéis, então esse valor fica muito menor. Esse preço médio é para projetos em que se parte do zero, mas no leilão podem aparecer situações específicas.
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Não há restrições para este tipo de projeto?
Não. Deixando ao investidor a possibilidade, as vezes surgem soluções criativas que acabam mostrando alguma viabilidade. Uma coisa é o cálculo de gabinete, outra é aquele que se vai num caso concreto, o cara consegue condições surpreendentes e ganha espaço. Não descarto algum tipo de surpresa no leilão.

Sabe de algum projeto do tipo? Pode ser uma tendência?
Sei que tem gente de eólica tentando. Não sei se seria uma tendência, mas sei que existem investidores estudando isso.

Existe alguma previsão de quando a solar deve passar a ser competitiva?
A Agência Internacional de Energia fala que em grande parte do mundo vai ser viável a partir de 2020. Eu acho que no Brasil antes disso a gente já terá ela mais competitiva.

A EPE tem algum tipo de levantamento em relação à microgeração no país?
Acho que isso tende a crescer, principalmente em função do net meetering, que mede tanto a produção que a casa recebe da rede quanto a que ela manda para a rede. A gente projeta que a solar distribuída deva alcançar 1.400 MW em 10 anos. É pouco, menos de 1% da nossa matriz, mas essa é uma posição conservadora.

A eólica tem crescido bastante, mas passou por alguns problemas com os atrasos das linhas de transmissão. Como estão os novos projetos pensados para evitar isso?
A idéia que a gente teve para a transmissão da eólica eram as estações coletoras, que é uma maneira de tentar evitar que vários parques juntos tivessem que investir individualmente em linhas até a rede básica. A idéia era levar a rede básica até próximo às usinas e elas se ligarem a uma subestação. Isso evitava que houvesse linhas paralelas, sobrecustos etc. A idéia é interessante, mas, para funcionar, tinham que ser feitos primeiro os leilões das usinas e depois os das linhas, porque havia, por exemplo, 400 parques disputando, então não se sabia de antemão quem iria vencer. Deste modo, só podia ser feito o leilão de transmissão depois de se saber quem tivesse vencido.
Apertava o prazo…
O prazo ficava curto, dadas as dificuldades de licenciamento ambiental, e acabamos ficando com essa situação indesejável de ter parques prontos para operar sem condição de transmitir. Seria ótimo, mas, como não funcionou, fomos para outra estratégia. No leilão de reserva, as usinas só podiam participar se já tivessem um local onde se conectar, então tinha uma disputa pelas subestações e muitos ficaram de fora do leilão, diminuindo a oferta. Agora no próximo vamos deixar que cada empreendedor seja responsável pela própria conexão.

Isso deve encarecer o MWh?
Você coloca um fato a mais para o gerador. Ele tem que assumir o risco da conexão. A vantagem da estação coletora é que o dono do parque pagava pelo uso da linha de transmissão. Agora ele terá que fazer também uma ligação. Mas, para poder minorar isso, nós projetamos linhas de transmissão para onde estão concentrados os parques e mandamos para o Ministério para leiloar.

Como prever as áreas onde estarão os vencedores?
Na hora que você faz isso, está fazendo uma aposta. Esse leilão não é exclusivo para parques eólicos, mas fizemos os projetos pensando nos lugares onde elas devem estar concentradas. Em áreas onde há muito vento e poucas linhas de transmissão. (Petronotícias)



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