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YINGLI vê energia solar como alternativa para baixar custo com térmicas no Brasil




A empresa chinesa Yingli Solar, que produz painéis fotovoltaicos, está buscando ampliar suas operações no Brasil, com estudos inclusive sobre a viabilidade econômica de uma fábrica local, mas ainda esbarra em alguns pontos que precisam ser definidos no país. Entre eles, a previsibilidade da demanda, a clareza sobre os termos de financiamento aos projetos solares e algum tipo de incentivo ao desenvolvimento da fonte. O diretor geral da Yingli no Brasil, Markus Vlasits, conta que estão trabalhando com três linhas de frente aqui; uma voltada aos leilões, em que deve haver a maior demanda por painéis, uma para a geração distribuída, que pode atender tanto indústrias, como estabelecimentos comerciais e residenciais, e a última para sistemas isolados da rede, como grandes fazendas. Já de olho no leilão de energia solar de reserva de outubro, Vlasits estima que o preço do MWh deva ficar entre R$ 220 e R$ 240, e ressalta que, apesar de ser mais caro que a hídrica e a eólica, pode se tornar uma alternativa a uma parte das térmicas, que têm elevado muito o custo da energia no país. “Numa situação em que o país está despachando geração térmica que foi projetada para ser capacidade de reserva, a gente tem uma proposta atrativa”, diz. O executivo faz ainda um apelo às distribuidoras para que abram espaço para a geração solar, já que é um processo em andamento: “Se o cliente resolver instalar (painéis solares), ele vai consumir menos delas, então ela, como concessionária, pode ou participar disso, vendendo e instalando os sistemas, ou deixar o espaço aberto para que outras empresas ocupem”.

Como é a atuação da Yingli no Brasil atualmente?

A gente acredita fortemente no potencial de crescimento do mercado brasileiro, mas há que reconhecer que atualmente a demanda aqui ainda é restrita e pequena. Temos uma empresa aqui chamada Yingli do Brasil, sediada em São Paulo, basicamente o representante legal aqui, e um escritório de venda, tudo no mesmo lugar. Nossa função é desenvolver negócios e realizar oportunidades com clientes, assim como prestar assistência a eles.

Entendemos nitidamente que tanto aqui, como em outros mercados emergentes, a presença local é um fator decisivo. É muito difícil realizar projetos de energia solar se você não estiver aqui.

Além de vender os módulos, ainda damos suporte em alguns assuntos de engenharia e temos um estoque de pronta entrega, porque nem todos os clientes estão dispostos a passar pelos trâmites de importação. Temos cerca de 250 kW de painéis de estoque, uma coisa pequena, para clientes que precisam de atendimento rápido.

Como a empresa vê o mercado de energia solar brasileiro?

A gente analisa bastante o setor elétrico brasileiro e a conclusão é que o país vai precisar mais cedo do que se imaginava de novas fontes elétricas. Basta ver o preço de mercado, os reservatórios, que vemos que a matriz precisa ser diversificada, então existe um viés a favor disso. Acreditamos que haverá demanda tanto para projetos de grande porte, para o leilão de reserva e outros leilões, mas também vemos muita possibilidade na geração distribuída, instalados no local de consumo, que podem ser em hospitais, shoppings, indústrias ou até em residências.

A solar é a única renovável que você pode modularizar sem perder muita eficiência, então você pode remodelar toda a estrutura do setor elétrico, sem a necessidade de investimento em grandes sistemas de transmissão. Então nos preparamos para todos os segmentos.

Qual a expectativa com o leilão de reserva?

O leilão de outubro deve gerar uma demanda por projetos de grande porte e vemos a demanda cada vez maior por projetos de geração distribuída. Estamos negociando com as empresas, mas é cedo falar em estimativa de demanda de painéis, até porque não sabemos quanto será contratado. Mas o que posso dizer é que existem muitos projetos, e bons projetos, muito grandes. Eles basicamente estão prontos para ir ao leilão e são projetos em regiões com irradiação privilegiada e próximas a subestações. Fica claro que não faltam projetos de alta qualidade. Hoje em dia, há duas incógnitas, e ambas são criticas: não sabemos qual será o preço teto colocado pela EPE e desconhecemos as condições de financiamento que serão aplicadas a esses projetos. E nenhum desses projetos vai sair do lugar sem viabilidade de financiamento adequada.

A fonte já é competitiva?

O MWh solar, na nossa expectativa, é que seja viável para projetos na casa de uns R$ 220 a R$ 240 o MWh. É mais caro que eólico e hídrico, mas é muito competitivo em comparação com geração térmica, sobretudo em relação a óleo combustível e óleo diesel. Numa situação em que o país está despachando geração térmica que foi projetada para ser capacidade de reserva, a gente tem uma proposta atrativa.

Qual é o espaço ocupado para a geração de um MW?

Eu não estaria preocupado com área pelos seguintes motivos: as áreas mais indicadas para geração de energia solar são áreas no interior, no semiárido brasileiro, onde existe pouquíssimo uso alternativo. É em áreas onde até um boi precisa de protetor solar. Onde não existe competição de espaço com outras atividades, sejam de agricultura ou de outras fontes de geração de energia. Para termos uma ideia média, uma planta de 90 MW na Alemanha ocupa 200 hectares. No Brasil é preciso um pouco menos de espaço. Para um MW seria um pouco mais de dois hectares por aqui.

Quais são as maiores oportunidades no Brasil?

Eu vejo três segmentos relevantes para nós. A usina solar, em projetos que vão pra leilão, que em termos de volume será o mais expressivo; a geração distribuída, onde haverá muitas instalações menores, no local de consumo – sabemos de outros mercados, como Alemanha e Japão, vendo que isso pode chegar a números muito significativos -; e também a geração isolada, como, por exemplo, o bombeamento solar em fazendas com nenhuma ligação ou ligação precária ao sistema elétrico.

Quais as perspectivas em relação aos setores industrial, comercial e residencial?

Nosso papel, para todos os segmentos, é o de fornecedor da placa, e o painel solar corresponde a mais ou menos 50% do valor total. Não entramos diretamente no projeto ou na instalação. Normalmente temos parcerias muito boas com epecistas ou com instaladores residenciais. Na parte da geração distribuída, são muitas pequenas empresas que serão os futuros promotores da geração distribuída solar aqui no Brasil.

A empresa possui parcerias com companhias brasileiras? De que tipo?

Hoje em dia nossos principais clientes são como a Renova, projetistas, que desenvolvem projetos de grande porte. Além deles, estamos desenvolvendo negócios com outros do setor. Depois tem também o segmento com empresas como a SGP Solar, que são hoje menores, com enfoque na geração distribuída. Nessa área acontece uma coisa interessante, que as concessionárias não têm mostrado muito interesse em entrar em energia solar, apesar de isso ser um complemento muito natural para elas, porque elas já têm o contato com o cliente final e uma estrutura de atendimento e serviço a eles. Nenhuma delas abraçou a causa da energia solar. Por esse motivo, vemos os pioneiros entrarem e ocuparem esse espaço.

Como você vê a entrada das concessionárias nesse mercado?

A CPFL, por exemplo, tem um braço de serviços, como a Light, que são empresas voltadas a eficiência energética. Elas poderiam oferecer soluções de energia solar. Se o cliente resolver instalar (painéis solares), ele vai consumir menos delas, então ela, como concessionária, pode ou participar disso, vendendo e instalando os sistemas, ou deixar o espaço aberto para que outras empresas ocupem. Então a minha sugestão, o meu convite para elas, é que, já que isso está acontecendo, elas poderiam entrar nisso e aproveitar essa dinâmica.

Pode falar sobre o contrato com a Renova?

Estamos nos últimos detalhes. Estamos registrando um aumento muito significativo de todo tipo de negociação. Há muitos novos parceiros interessados em trabalhar com energia solar.

A empresa estuda instalar uma fábrica de painéis aqui no futuro? Quais são as circunstâncias necessárias para isso acontecer?

Temos estudos sobre a viabilidade de uma fábrica aqui, e, em primeiro lugar, o assunto mais importante é a previsibilidade da demanda. Por isso que esse leilão, ou melhor, leilões solares, são importantes para isso. É difícil justificar uma fábrica aqui se você não tem certeza que os painéis serão usados e vendidos no país. Um primeiro passo poderia ser a instalação de uma montadora de painéis. Estamos avaliando o assunto, ainda sem nenhuma decisão a respeito, mas estamos vendo a viabilidade financeira e todas as condições.

Em termos globais, não existe falta de capacidade produtiva. A demanda nacional poderia ser atendida pelas fábricas que já existem na China, mas sabemos da preocupação do país com o parque industrial daqui e estamos dispostos a estudar o assunto. Mas há que reconhecer que não tem nenhuma vantagem no país para a produção local de painéis. Hoje não há nada específico, nenhum incentivo tributário etc.

Acha que devem surgir incentivos em breve?

Acredito que isso vai mudar. Sabemos que o BNDES está desenvolvendo um plano específico para solar. Falamos com estados que têm interesse, então acho que é uma questão de tempo.

Quais são as perspectivas com o futuro por aqui?

Do ponto de vista global, sabemos que hoje em dia o Brasil usa bastante combustível fóssil, óleo e óleo diesel, e achamos que seria muito mais inteligente vender esse combustível no mercado mundial e gerar energia de outra forma. Usar petróleo para a geração de energia elétrica não é a forma mais vantajosa de usar esse recurso. O modelo mais inteligente seria deixar essas centrais térmicas como capacidade de reserva e aumentar a capacidade de geração com novas plantas solares.

Em termos gerais, o nosso papel nesse setor emergente é ser o fornecedor da placa, que é o principal componente. Tendo essas condições, vamos produzir aqui, mas por enquanto vamos importar da China, por ser a condição mais competitiva, e a preocupação vai ser sempre com qualidade, competitividade e preço. É um componente que vai durar 25 anos, então temos um enfoque grande para que realmente seja durável. 

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